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quarta-feira, 19 de outubro de 2011

O Remexido de ontem e de hoje. Por Antonieta Guerreiro


“Remechido”, foi a alcunha que sua mulher, D. Maria Clara de Bastos Machado, natural de Paderne, colocou a José Joaquim de Sousa pela forma como conquistou o consentimento do tio para deixar o seminário e se casar.

Filho de humildes lavradores foi distinto aluno em gramática, retórica, filosofia, direito canónico e teologia dogmática, recebeu Ordens Menores, não podendo celebrar missa devido à sua curta idade. Depois de deixar o seminário e de contrair matrimónio, cedo se distinguiu pelo elevado trabalho a nível social, o qual era muito apreciado pela população de São Bartolomeu de Messines,

Criou a escola de primeiras letras, apoiou a construção de um forno de poia, peticionou a criação da feira da Nossa Senhora da Saúde, exerceu a actividade de cobrador de dízimas da mitra e do cabido, cobrador da sisa e das décimas da Câmara Municipal de Silves, e ainda juiz de vintena no ano de 1820 e de 1826 a 1829.

Na área militar foi comandante dos Terços de Ordenanças de Silves e Capitão Comandante das Guerrilhas da direita.

Após a convenção de Evora-Monte, em 1834 - apesar da amnistia - foi perseguido e sua família ameaçada pelos vitoriosos liberais, levando-o a desencadear uma luta de guerrilha que culminou com a sua prisão, julgamento e

fuzilamento em 2 de Agosto de 1838.

É também sobre este peculiar algarvio que irei falar no dia 22 de Outubro, sábado, pelas 17:00 horas, na Igreja da

Misericórdia de Monchique. Trata-se de um evento onde apresentarei três projectos: os livros “Cursum Perficio – Viagem a Akhshânba” e “Remechido e o desastre de Albufeira”, respectivamente de Victor Borges e Sérgio Brito, e ainda o projecto “Genealogia do Algarve”, desenvolvido por Nuno Campos Inácio, o qual fará a ponte entre os tempos mais remotos e a actualidade onde a crise económica e financeira à escala global se pode transformar um verdadeiro desastre turístico para Albufeira e para o Algarve.

Escrevo este artigo um dia depois da manifestação mundial de protesto de 15 de Outubro o qual uniu mais de 1000 cidades em 80 países numa só voz e sob um único lema “Juntos, por uma mudança global”.

Em Faro mais de um milhar, de várias gerações e profissões, incluindo veteranos das Forças Armadas, ao som de palmas e slogans percorreram a baixa da capital do distrito. Entre as propostas concretas está a ida à AR - continuando a luta contra as portagens - e criação de um mural de protesto permanente tendo em vista o cumprimento dos

ideais subjacentes ao desenvolvimento democrático justo e equitativo porquanto a democracia não se esgota numa “cruz”que todos carregamos de quatro em quatro anos, como disse um dos manifestantes. O que em meu entender é bem verdade, pois ainda que a Democracia Participativa e a Cidadania Activa não sejam uma e a mesma coisa elas andam de mãos dadas, todos os dias, e a cada dia em que o sol nasce podemos começar um novo percurso nas nossas vidas.

Seguramente que a viagem de José Joaquim de Sousa a “Akhshânba” em prol da sua causa e o subsequente desastre de Albufeira não resultou num “Cursum Perficio” para si ou para a sua família, mas pergunto-me: - Passados 173 anos o que nos faltará de “Remechido” para que o nosso percurso de vida seja mais perfeito?

Artigo Publicado, no dia 17 de Outubro, no "Observatório do Algarve".
para o qual aqui fica o link: http://www.observatoriodoalgarve.com/cna/opinioes_ver.asp?opiniao=1160


Antonieta Guerreiro




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