Páginas do Portimão Sempre

terça-feira, 6 de março de 2012

Pensar Capitalismo. Por Custódio Coelho


Analisando a história económica das quatro últimas décadas nas economias Ocidentais, Estados Unidos e Europa, não se consegue concluir que os lucros das empresas privadas e as poupanças das famílias tenham contribuído para o aumento da produtividade e para o crescimento do produto. Já quando analisado o consumo privado e os gastos do Estado a conclusão mostra-se contrária.

Deduz-se assim que os lucros do sector empresarial privado e os lucros (poupança) das famílias pouco ou nada têm contribuído param o crescimento económico e para o aumento da produtividade das economias.

Academicamente a maioria dos economistas e dos políticos afirmam que o investimento privado contribui para o crescimento da economia e da produtividade, equipamentos, maquinaria, cria emprego, aumentando assim a produtividade e o rendimento das famílias. Assim definem-se políticas de apoio às empresas, incentivos, subsídios e tendencialmente baixa de impostos para atrair mais investimento e incentiva-se a poupança.

Esta teoria é hoje uma verdade aceitável pela generalidade da população.
Mas a história recente demonstra que não é assim.

No último século o produto bruto per capita, dos Estados Unidos e da Europa cresceu 600%, entretanto a componente percentual, ou seja a quota-parte do investimento privado no produto decresceu cerca de 70%. No início do século XX todo o investimento provinha do sector privado, já no final do mesmo século o investimento era quase na sua totalidade de origem pública ou em consumo das famílias, nomeadamente em habitação.

Por outras palavras, o crescimento da riqueza teve na sua origem os gastos públicos e o consumo privado. A importância do investimento privado em equipamentos, maquinaria e criação de emprego veio tendencialmente em decréscimo acentuado.

Os anos setenta, orientados por Reagan e Thatcher tentaram contrariar esta tendência, todas as suas políticas alinhavam nesse sentido, austeridade, com o objectivo de estimularem o crescimento face à estagnação, incentivaram as empresas privadas, baixaram impostos, restringiram o consumo privado. O resultado não foi o pretendido. No início do século XXI a mesma política dos anos setenta foi tentada e também não obteve resultados positivos para o crescimento.

Ambas as políticas, tiveram como consequência, não o crescimento do produto mas o crescimento dos lucros das empresas, a sua actividade não conseguiu gerar emprego, aliás assistiu-se a maiores taxas de desemprego.

Os lucros das empresas e as poupanças das famílias não fomentam o crescimento do produto. Lucros de empresas privadas não contribuem para o crescimento económico e poupanças particulares contribuem para valorizar participações de capital, fornecem liquidez ao mercado de capitais, incrementam o volume de transacções nos mercados especulativos de bolsa.

O pensamento único que privilegia os benefícios para as empresas privadas e para a poupança, contribuiu também para que 1% da população retenha hoje cerca de 80% da riqueza.

A grande questão está na virtualidade moral da cultura de consumo, na natureza e objectivo da poupança. Sacrificar um desejo para podermos poupar, sacrificamo-nos para ter um futuro melhor, e na verdade não estamos a pensar bem. Não é pelo facto de poupar que se garante um futuro melhor.

O aumento do consumo não é só a chave para a recuperação económica no curto prazo, é também a garantia de crescimento a médio e longo prazo. Se o objectivo é recuperar as economias Europeias e Americana urge financiar o consumo. O aumento de consumo traduz-se, com uma correcta política fiscal, num aumento de colecta do Estado, que lhe permite, também ele, gastar mais e contribuir para o crescimento, bem como para redistribuir. Redistribuir não é assunto para as empresas privadas, é assunto para o Estado.

Não é necessário a enormidade de analistas financeiros, “traders”, grandes bancos, administradores de fundos, que têm como missão gerir as nossas pequenas poupanças e os lucros das empresas. Chegou a hora de nós, consumidores, pouparmos menos, gastarmos mais, em nome de um futuro melhor.

Outubro de 2011
Custódio Coelho

Sem comentários:

Enviar um comentário