Páginas do Portimão Sempre

sábado, 4 de agosto de 2012

A DOUTRINA DA ILEGITIMIDADE E DA RESISTÊNCIA. Por José Gamboa (Horta de São Bruno)


No fim do Império Romano, face às violências perpetradas pelos bárbaros do norte contra os romanos por todo o Império (bárbaros estes que forçaram a entrada no Império para fugir às violências do Hunos, vindo da Ásia Central), fez que muitos cidadãos romanos cristãos se refugiassem em locais mais isolados, constituindo novas sociedades. A cidade de Veneza é talvez o exemplo mais perfeito dessas realidades, uma vez que nasceu em ilhas para onde romanos cristãos se tinham refugiado.

Hoje claramente, vivemos num fim de uma época civilizacional, caracterizada, entre várias coisas, no Ocidente, pela decadência do cristianismo (Igreja Católica Romana, porque as outras comunidades nascidas da reforma de Lutero do Séc. XVI há muito que implodiram) e coisa nova, o cristianismo no Ocidente deixou de ser motor de civilização mas limita-se a reagir. O concílio Vaticano II operado na Igreja católica foi um plano bem estabelecido de implosão da Igreja Católica. Mas isso é outro assunto que fica para depois.

Em relação à Civilização Ocidental laica…. O grande progresso e único na História da Humanidade cujo culmen atingiu o máximo no pós-II Guerra, fortemente influenciado pela Doutrina Social da Igreja, desenvolvida no Séc. XIX pelo Papa Gregório XVI, que por exemplo definiu o que é o salário justo, quebrando o circulo da indigência a que os trabalhadores estavam submetidos, constituído por acesso generalizado a todos à educação, particularmente em Portugal, onde não existindo classes sociais fortemente vinculadas pelo sangue de nascimento, permitiu que pessoas de origens económicas mais débeis ascendessem a engenheiros e médicos. A cultura generalizou-se. O progresso no país seguia em passos largos nos anos 70, colhendo os frutos de sementes lançadas anteriormente. Em Portugal e por todo o Ocidente. O factor nascimento não era determinante no progresso da pessoa, apenas o Estudo. Quem estudava, por seu mérito, e atingia estudos elevados podia ascender socialmente, uma vez que as remunerações eram em função dos estudos, e naturalmente quantos mais estudos mais responsabilidades. Em África nascia uma civilização multicultural, multirracial, tal como acontecera no Brasil… o que era insuportável para outros povos e ideologias.

Presentemente, não apenas em Portugal assiste-se a um recuo dos progressos.
AUMENTO DAS HABILITAÇÕES E AUMENTO DA IGNORÂNCIA – O Estado promoceu a atribuição de diplomas a pessoas sem estudarem. Pessoas com o 9º ano passaram administrativamente a ter o 12ºano, passando por cima de 3 anos de estudo. Por sua vez essas pessoas com um papel na mão, que não correspondia ao aumento de conhecimentos puderam entrar na faculdade à frente de outros que estudaram 3 anos. Por sua vez as faculdades atribuem equivalências… e são concedidos diplomas… mestrados, doutoramentos…. Quando os professores recebem instruções para passar os alunos quer saibam quer não saibam….

Um certificado de habilitações é sinónimo de que o aluno progrediu nos seus conhecimentos. Um diploma é um reconhecimento, nada mais. De que a pessoa ficou mais culta, com mais conhecimentos. E que teve capacidade para isso.
Mas qual é o objectivo, do descrédito do estudo, do esforço de estudar? Reduzir o povo à ignorância atribuindo papéis de certificados. Não é o conhecimento que importa, o que importa é o certificado…. Ou seja cria-se uma ilusão de povo culto com habilitações quando na realidade o aumento das habilitações não corresponde ao aumento da cultura e do conhecimento.

O objectivo é criar um povo inculto, com papéis na mão. Criação de auto-estima, dizem, mas que não é capaz de perceber os políticos na TV porque lhes falta vocabulário e raciocínio lógico que se aprende em matemática e em filosofia. Penso, LOGO, existe. Se o político x não cumpre o que promete, LOGO é mentiroso, e não digno do meu voto. São raciocínios básicos que não são efectuados. Desastrosamente.
A inexistência de pensamento lógico permitiu criar um batalhão de defensores partidários, defensores da ilógica.

QUESTÃO SALARIAL
Engenheiros e arquitectos com propostas salariais de 500 euros é reduzir o estudo a nada, e também consequência do descrédito do ensino. Então a bitola salarial é estabelecida por baixo. Os salários têm de baixar, dizem…
Consequência? Redução à indigência do Povo, porque os salários baixam e o impostos aumenta…. Fim da definição de salário justo criado por Gregório XVI – salário justo é o salário que permite um trabalhador suprir as suas necessidades e da sua família e fazer poupança. O actual avanço é impedir a poupança e impedir a pessoa de satisfazer as suas necessidades.

REDUÇÃO DO POVO À INDIGÊNCIA
Olhemos para o passado. Havia uma imensidão de pessoas incultas, com baixos salários, que tinham o nome de SERVOS, dos senhores feudais dos tempos antigos. Estes Servos tinham a função de trabalhar para sustentar os seus senhores.

Hoje? Não caminhamos para o mesmo? No meu entender evidentemente. Que provas? Frases de políticos que dizem: «Para nós uma manifestação de 10, 1000 ou 100.000 pessoas é igual»; as parcerias-publico-privadas intocáveis; a defesa intransigente de “espiões” da vida privada; etc, demonstram um rumo traçado, há muito. Há muitos outros sinais, mas que tornava este texto bem mais longo.
Infelizmente, vejo muita reacção contra os efeitos, mas muito pouca contra as causas.

Que fazer? Não como reagir, contra o actual rumo traçado, mas mais importante, COMO CRIAR UMA NOVA CIVILIZAÇÃO NO MEIO DOS ESCOMBROS? Cabe a cada um, os cultos, os que procuram se cultivar, a se refugiarem, tal como fizeram os cristãos no fim do Império. Quem é chamado para isso que crie novas comunidades, tal como já acontece no EUA e na França. Comunidades não de freaks, mas de gente equilibrada, que vive em grupos de partilha. Quem não vive em comunidade, que crie grupos de manutenção do progresso, pela cultura, pela arte, pelo estudo, pela alimentação saudável. MENS SANA IN CORPORE SANO, a máxima latina aplica-se agora. Não é por acaso que a arte, a cultura greco-romana permaneceu viva no catolicismo. A arte e a cultura, a filosofia, é indispensável ao progresso humano.

Passos para nos mantermos saudáveis: livrarmo-nos de dívidas dos bancos e cartões de crédito; ler, ler muito; estudar; comer bem e beber melhor; rezar. Conviver com pessoas sãs e equilibradas. E nunca esperar nada de ninguém, pois já a máxima grega inscrita no frontão do Templo de Apolo, em Delos, na Grécia antiga dizia: «conhece-te a ti mesmo», revela que nós próprios nos podemos decepcionar connosco próprios . Esse é um dos caminhos para a felicidade. Só o conhecimento de si próprio, das suas limitações e defeitos e virtudes nos permite melhorar. E claro a frase poderosa de Jesus Cristo: «faz aos outros o que queres que te façam a ti», é demolidora de muitas más intenções.

Sem pretensiosismos, eu, proprietário da Horta de São Bruno, preparo a Horta para ser um local de encontro de grupos de pessoas avisadas, cultas e mais importante, que queiram conviver regularmente numa forma de estar na vida em forma de partilha. Partilha do alimento saudável, em convívios sem dinheiro envolvido, criando uma alternativa à ilegitimidade das Leis que obrigam a que todas as relações entre pessoas envolvam dinheiro.

Mais do que reagir contra o rumo traçado que nos conduzirão à ignorância e à indigência, é preciso começar a percorrer novos caminhos. IHS. Cabe a cada um pensar por si próprio. Penso, LOGO, existo. Ou ao contrário, se existo, PENSO por mim próprio e não pela cabeça de outra pessoa, nomeadamente o chefe do partido político.

José Gamboa
(Horta de São Bruno)

1 comentário:

  1. Diz e muito bem, o Sr. José Gamboa, no seu artigo: AUMENTO DAS HABILITAÇÕES E AUMENTO DA IGNORÂNCIA. Concordo com a sua opinião que eu já tinha constatado mas numa outra vertente, que é assim: os miúdos andam na escola primária (que já não é primária, é ensino básico), a seguir vem o ensino secundário (será que tem outro nome?), e, depois é que vem o tal ensino superior; isto das escolas está sob a alçada do chamado Ministério da Educação... porque será Ministério da Educação? Deveria chamar-se de Ministério do Ensino ou da Instrução... Vêem-se às vezes miúdos "teenagers" que, de educação, "nicles", e, quanto à instrução... talvez seja... "de batatoides". A estes dará jeito ter o tal papel de certificado na mão (para não serem chamados de básicos).

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