Em Setembro de 2009 escrevi no artigo “O Lado Social da Crise”, publicado neste jornal, o seguinte: «Com a agudização da crise financeira, a má gestão do governo socialista, o fim da época balnear e a deterioração socioeconómica das famílias e das empresas prevê-se: um aumento dos desempregados; a diminuição do poder de compra; o aumento da prostituição; o aumento dos sem-abrigo; o aumento de pessoas que deixam de ter condições para pagar a renda da casa, a água, a luz e o gás. Assistiremos a um o aumento de todas as dificuldades, e em consequência de tudo isto, a um aumento significativo do recurso às instituições de solidariedade social. (…) O pico desta crise - que a cada dia amplifica a sua tónica social – dará os seus piores frutos daqui a dois anos findos os subsídios de desemprego e os protocolos para desempregados de longa duração. Nessa altura as pessoas que estarão à procura de auxílio social serão em maior número e, dificilmente, as instituições de solidariedade social terão capacidade para acolher e suportar tantos concidadãos carenciados.»
Hoje, a Casa Nossa Senhora da Conceição acolhe 37 raparigas, em idade escolar onde têm: pequeno-almoço, lanche, almoço, jantar (por volta das 19:30) e ceia. Durante o tempo de aulas almoçam na escola com o apoio social, mas ao fim-de-semana e nas férias a instituição fornece-lhes 5 refeições por dia - uma instituição que também necessita, diariamente, de produtos de higiene pessoal para 37 meninas.
O GRATO apoia, mensalmente, 160 famílias através do Banco Alimentar. Recebe refeições confeccionadas de 4 escolas e de 1 restaurante as quais distribui à hora do jantar por cerca de 50 pessoas.
O Refeitório do Padre Arsénio distribui 70 almoços preparados com os alimentos oferecidos por particulares, pelo mercado abastecedor e por empresas.
Ou seja, Portimão, a cidade que há 13 anos eu escolhi para viver, tem hoje 14,7% de desempregados (a taxa mais elevada do Algarve) e, em almoços e jantares, as suas principais instituições distribuem pelo menos 194 refeições sociais por dia. Seguramente serão mais pois as escolas e as restantes instituições da cidade apoiam outras crianças e adultos.
Da conversa que tive com o Padre Arsénio ao telefone fica a esperança de dias melhores, pois as nossas preocupações são as mesmas. O sistema educativo não forma pessoas capazes de lidar com as adversidades da vida. Os portugueses assumiram um estilo de vida que não conseguem pagar. A diferença entre o FMI de hoje e o FMI de 1980 sente-se ao nível dos luxos e do comodismo. Antes as pessoas estavam habituadas à pobreza e à vida difícil, hoje já não estão! Por isso hoje é tudo muito mais difícil de suportar.
Ajudar os nossos concidadãos é uma tarefa de todos. Sendo cada um de nós parte integrante do TODO basta que cada um mude o seu mundo para que o MUNDO se modifique. Olhe através da transparência do coração - verde de esperança – e verá que não é assim tão difícil. Bem-Hajam.
Bons Dias
ResponderEliminarMinha Cara Amiga
Antonieta Guerreiro,
A Sra. toca aqui num problema de que ando a falar há cerca de 30 anos, a pobreza e as suas sequelas, prostituição, os sem-abrigo, o aumenta da criminalidade resultante desse aumento de pobreza, etc.
Utilizei os meios possíveis, comecei ainda no tempo das célebres colunas das "Cartas ao Director", mais tarde, nos programas de rádio abertos aos ouvintes, "Cobras e Lagartos" do Amigo Joaquim Letria por exemplo foi um deles, mas noutros também, depois vim para os blogues e agora no Facebook, e resultados???
Fui "cognominado" de lunático, pessimista profissional, palerma, até fascista, etc. etc. e agora ainda sou isso tudo???
Pois agora, que até já a Sra. Merkel ameaça com aperda de soberania dos países que não cumprirem o défice (gostava de saber como, com pistolas apontadas ao peito?), quanto estamos a pagar juros usurários, quando temos uma dívida pública de 106% do PIB (fora a das empresas estatais mais uns 20 ou 30%), mais a dívida privada outros 100% ou mais, gostava que algum iluminado me dissesse como vamos conseguir ultrapassar isso.
Cara Antoineta, eu tenho 60 anos, conheci o Algarve em 1964, então, havia um fervilhar de fábricas de conservas, havia uma agricultura e umas pescas que apesar de não serem ricas eram no entanto, o sustento de milhares de pessoas, e hoje o que é que o Algarve oferece???
Turismo???
Mas e os outros países, como a Espanha ou o norte de África não oferecem igualmente turismo e a preços mais baixos que essa província???
E com a crise económica generalizada, será o turismo suficiente para dar um nível de vida aceitável à população algarvia, e nos meses fracos? Dedicam-se a quê, a a visitar os centros comerciais???
Aonde está a industria?
O sector primáro (pescas e agricultura) como estão???
Em estado de coma???
Minha Cara amiga, acredite, que, quer no Algarve, quer no resto do país, temos tido governantes que pensam com a cabeça dos dedos dos pés, e assim, não é de admirar que as pessoas precisem dos tais apoios, mas será que com a pobreza franciscana em que estamos e que ainda piorará, vai haver recursos para manter esses apoios???
Haja alguém que dê resposta, eu não sou capaz, isto ultrapassou todo o meu "pessimismo profissional" que "apregoei" durante quase 3 dezenas de anos.
Os meus cumprimentos.
Eduardo Saraiva
Caro Sr.
ResponderEliminarAgradeço-lhe a sua mensagem a qual muito apreciei.
Concordo com tudo o que diz.
Durante os últimos 20 anos optámos por especializar o País por sectores de economia/produção e ao mesmo tempo procurar fundos comunitários. Assim, quem sabia fazer sapatos, passou a fazer só sapatos; quem sabia trabalhar as lãs, passou só a fazer isso; quem sabia fazer gestão de portos, passou a fazer só isso; e assim por diante. Quem tinha jeito para fazer Turismo, passou só a fazer isso.
Ora, o que acontece é que as pessoas primeiro gastam o seu dinheiro na casa, na comida, na escola, em despesas de saúde, na prestação do carro e só depois é que fazem lazer…com o agudizar da crise as pessoas foram obrigadas a repensar nas suas prioridades. Obviamente, que o Lazer não é uma prioridade e quem é que em Portugal produz lazer? – Nós e a Madeira…pois vocacionaram-nos para isso. Aquilo a que se tem chamado a monocultura do Turismo….Mas não só cá, nos outros distritos passou-se o mesmo.
O que é que acontece quando uma das monoculturas económicas deixa de produzir? – Todo o distrito deixa de produzir, deixa de comprar, deixa de passear…e tem de repensar a sua forma de viver.
Foi o que aconteceu.
Sabe meu amigo, há 20 anos chamaram-me a atenção para isto, mas na altura era adolescente…não sabia das coisas e acreditei nos adultos. Dez anos depois com mais conhecimento e noção da realidade, compreendi que se calhar era verdade….Hoje eu tenho a certeza, aquelas pessoas como o senhor estavam cheias de razão.
E agora o meu amigo diz-me…do que é me serve a razão se ninguém me ouviu em tempo útil? – pois, compreendo. Não é fácil.
Só espero que outras vozes como a do meu amigo se levantem e que não se calem pois é preciso continuar a acreditar que podemos fazer sempre melhor pelo nosso país.
Caro amigo,
“A vida é como o mar, como a maré
Nunca pares de lutar
os Homens vivem de pé”
Grata pelas suas palavras.
Bem-haja.
Antonieta Guerreiro
ResponderEliminarSabe Sr. Eduardro há uns anos ouvi na rádio (há muitos anos mesmo) numa desses programas a que se referiu...e o entrevistado dizia: "A profissão mais ingrata do mundo é a de profeta...ninguém acredita no que o profeta diz, até as coisas acontecerem e nessa altura é tarde de mais".
ResponderEliminarPois nestas coisas da política é a mesma coisa.
mas pergunto - e vamo-nos calar?!
Não deixe de pensar e de dizer o que pensa, pois as suas "profecias" ao nível da económia e do desenvolvimento regional estavam certas.
e se pensarmos bem...não é preciso ser-se profeta, basta saber pensar "fora da caixa" e de forma transversal às várias áreas do conhecimento.
Cumprimentos
Antonieta Guerreiro