“Basta, basta, basta!”, “Estamos à rasca”, “O povo unido jamais será vencido!”, “Portugal, Portugal, Portugal!”. “Mudança, Mudança” e “A Luta continua Sócrates para a rua”.
Estas foram algumas das palavras de ordem gritadas durante a manifestação da «Geração à Rasca», este sábado à tarde, em Faro, que contou com “mais de seis mil participantes”, de acordo com dados revelados ao barlavento.online por um responsável pelo Comando Distrital da Polícia de Segurança Pública (PSP).
Muitos dos jovens presentes são estudantes universitários e do ensino secundário. Não se viram figuras mediáticas.
Mas, no meio da multidão, havia, por exemplo, elementos de Faro do Bloco de Esquerda.
Entre cartazes e papéis empunhados sobretudo por jovens, podia ler-se “Portugal não é do PS nem do PSD”, “A Luta está marafada”, “Não lutamos por poder mas para sobreviver, devolvam-nos o futuro” e “Precários, não”, “Abaixo os recibos verdes”, “Não ao desemprego”, “Não queremos ser obrigados a emigrar”, “A quem nos vamos queixar? Quem nos acode?” e “Uivemos disse o cão” – Saramago”, entre outras frases de protesto.
Pelo meio, cantava-se «O que faz falta é avisar a malta» e o hino nacional. Com tambores à mistura, bandeiras portuguesas, os participantes na manifestação partiram, pelas 16h15 horas, do Largo de São Francisco, na capital algarvia, após alguns deles terem usado da palavra, e passaram junto ao Instituto da Juventude, Escola Secundária Tomás Cabreira e Avenida 5 de Outubro - onde junto à Repartição de Finanças lançaram apupos e assobios - regressando ao local da concentração, por volta das 17 horas.
Ali, no Largo de São Francisco, já se viam alguns jovens com garrafas de cerveja na mão em ambiente festivo, tal como quando, ao som da música, alguns não resistiam a dançar junto a um lago, onde se ouviram várias intervenções.
Curiosamente, uma criança às cavalitas de um familiar e um idoso, de 82 anos, participaram neste desfile, o qual acabou por desviar o trânsito, sob orientação de agentes da PSP, nas várias artérias da cidade de Faro por onde passou.
“Sou um jovem de 82 anos e já passei por esta desigualdade. No tempo da Segunda Guerra Mundial passei fome. Estou velho e cansado, já pouco posso fazer, mas ficava muito animado de ver estes a jovens a não sofrer”, disse Manuel Barros, de 82 anos, dirigindo-se aos manifestantes.
Tem dois filhos, um deles desempregado, e apesar da “minha pouca reforma”, ainda tem de os ajudar.
Um outro orador lembrou terem-lhe chamado “geração rasca”. “Hoje, estou à rasca. E estou à rasca porque aqueles lá em cima andam há anos a desenrascar-se. E continuam a desenrascar-se O problema está aí”, lamentou.
Em seguida, foi André Pereira, de 26 anos, residente em Portimão, que contou a sua experiência: “estive durante quatro anos a tirar um curso. Estou neste momento a continuar a estudar à custa dos meus pais, o que é uma vergonha com 26 anos. E eu quero que isto mude. Estou farto de pedir dinheiro aos meus pais”.
Já para o ator Mário Spencer, “chegou a altura do render da guarda”. “Os que estão a vigiar-nos há muito tempo já não prestam. Não nos identificamos com eles. Falam uma linguagem que não percebemos. Temos outra visão das coisas”.
Por seu turno, uma jovem, desempregada e com uma filha, queixou-se do facto de a Segurança Social se preparar para lhe “hipotecar bens” por não ter pago a tempo prestações.
“Só me falta tirarem a roupa do corpo”, ironizou. E ainda protestou contra o aumento de juros das propinas na Universidade do Algarve, de “um para seis por cento por mês”.
Depois do desfile em Faro, um dos organizadores da iniciativa, dirigindo-se às pessoas e congratulando-se com o facto de serem “neste momento seis mil cidadãos” (os manifestantes interromperem, de imediato, com aplausos, e gritando “o povo unido jamais será vencido”), foi taxativo ao afirmar: “é com exemplos destes que o povo português, afinal, ainda tem fé, ainda é capaz de tirar o cu do sofá e ir para a luta. Acordámos das mesmas políticas, das mesmas mentiras que há trinta anos nos vendem”.
Os manifestantes da «Geração à Rasca» prometem, agora, ir para a estrada, no próximo dia 19, a fim de protestar contra a introdução de portagens na A22/Via do Infante.
12 de Março de 2011 22:38
josé manuel oliveira
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