A Injustiça, a Indignação e a Revolta
"Milhares de pessoas participaram, sábado, na marcha lenta "Algarve Livre sem Portagens", entre Vila Real de Santo António e Lagos, numa acção de protesto contra a introdução de portagens na Via do Infante, a A22.
O protesto, convocado pelo "Movimento Algarve - Portagens na A22 Não" e pela Comissão de Utentes da Via do Infante, teve início cerca das 16:00 horas, com concentrações em quatro localidades algarvias, decorrendo ao longo de duas horas e meia nos dois sentidos da Via do Infante, culminando no Parque das Cidades, em Faro.
Segundo organizadores, o protesto "superou as expectativas, tendo ficado demonstrado a insatisfação da população à introdução de portagens naquela importante via rodoviária".
A caravana automóvel atingiu vários quilómetros, tendo sido acompanhada de perto por várias patrulhas da Guarda Nacional Republicana (GNR), que impediram a paragem dos automobilistas na via, junto ao nó de acesso da autoestrada do Sul (A2) tal como a organização tinha planeado.
João Vasconcelos, da Comissão de Utentes, destacou "a grande participação popular e anunciou novas acções de luta" para as próximas semanas.
"A indignação foi transformada em revolta e demonstra que os algarvios não vão ficar sossegados, porque portajar a Via do Infante não é solução, e vai agravar a crise económica", observou.
"As pessoas tiveram coragem e determinação e demonstraram o descontentamento pela atitude do Governo ao introduzir portagens numa via sem alternativas e essencial ao Algarve", destacou João Vasconcelos.
Aquele elemento da Comissão de Utentes da Via do Infante anunciou que está marcado "um novo protesto popular para o dia 8 de Abril, junto à Ponte Internacional do Guadiana".
Ao protesto popular e à caravana automóvel juntaram-se os presidentes da Comunidade Intermunicipal do Algarve (AMAL) e da Câmara de Portimão, bem como a deputada do Bloco de Esquerda, eleita pelo círculo do Algarve, Cecília Honório.
Macário Correia (PSD) justificou a sua presença no protesto para denunciar "a forma desonesta" como o Governo tem tratado o processo.
"Temos de manifestar a nossa revolta, porque é uma atitude injusta e deselegante. No dia em que estávamos a ser ouvidos sobre a colocação dos pórticos, já eles estavam a ser colocados", disse Macário Correia.
Por seu turno, o presidente da Câmara de Portimão considerou que a introdução de portagens "é uma decisão desastrosa para a região e, infelizmente, irreversível".
Manuel da Luz acrescentou que o Algarve "foi enganado, porque foi confrontado com uma imposição quando se tentava encontrar um ponto de consenso, menos penalizador para todos", e lamenta que "o Algarve seja constantemente enganado por Lisboa".
A deputada do Bloco de Esquerda, Cecília Honório, eleita pelo círculo de Faro, considerou "um protesto justo e muito expressivo, numa região fortemente marcada" pela crise económica.
"Quis marcar presença e demonstrar a minha solidariedade contra a introdução das portagens na Via do Infante", disse Cecília Honório". - Jornal de Notícias (19/03/2011)
As Consequências
"Um trajecto de 300 quilómetros na Via Infante (A22), no Algarve, vai custar mais do dobro do que o mesmo percurso numa autoestrada da Andaluzia após a introdução de portagens, estimou sábado um investigador da Universidade do Algarve.
Fernando Perna falava no fórum "Portagens no Algarve -- Impacto Económico e Social", uma iniciativa da Plataforma de Luta Contra as Portagens na Via Infante que reuniu cerca de 150 participantes, entre autarcas, empresários, deputados e cidadãos.
Segundo um cenário apresentado pelo docente da área do Turismo, um percurso de 300 quilómetros na A22 -- incluindo combustível e portagens -, custará 51,18 euros, mais do dobro dos 23 euros de gasto estimado para o mesmo percurso na Andaluzia.
Fernando Perna alerta ainda que as portagens vão provocar um aumento da carga fiscal sobre o turismo, sobretudo nas visitas dos excursionistas da Andaluzia, que são aqueles que ficam na região apenas um dia sem dormida em alojamento.
De acordo com a estimativa daquele docente, para uma viagem de 300 quilómetros na A22 já com portagens a carga fiscal passará a representar 79,6 por cento do preço final contra os actuais 61,6%
Dados recentes apresentados pelo investigador indicam que mais de 80 por cento das entradas de espanhóis no Algarve se referem a excursionistas, num universo de cerca de um milhão de entradas de espanhóis na região por ano.
A criação de uma oferta integrada de transportes públicos no Algarve e de uma linha de autocarro guiado foram algumas das soluções apresentadas por outros especialistas para uma melhor organização da mobilidade na região.
De acordo com outro docente da Universidade do Algarve, Manuel Tão, a introdução de portagens é um sintoma que revela o "cansaço" do modelo de mobilidade praticado na região nos últimos 20 anos.
O especialista diz que a "Rua Nacional 125" não é uma alternativa à A22. E defende uma moratória à introdução de portagens na região, medida que, diz, vai "penalizar duplamente" -- externa e internamente -, o Algarve
O engenheiro João Reis Simões defende, por seu turno, que seja estudada a hipótese de introdução de um autocarro guiado, que circularia em via própria, e que apresenta mais vantagens do que o comboio.
De acordo com aquele responsável, os comboios no Algarve transportam apenas 4 mil passageiros por dia e um metro ligeiro, para ser rentável, teria que transportar 15 mil por hora e por cada sentido de rota". - Jornal de Notícias - (19/02/2011)
Os Culpados
O vice-presidente do PSD Marco António Costa afirmou hoje, no Porto, que todas as autoestradas portuguesas vão ter portagens caso o partido vá para o governo. Cobranças devem iniciar-se a 15 de Abril entre elas a da Via do Infante no Algarve.
“Vai-se manter a situação que existe hoje acordada com o Partido Socialista”, afirmou Marco António, em conferência de imprensa, em resposta a uma pergunta sobre se todas as autoestradas vão ter portagens se o PSD for para o governo.
O dirigente social-democrata convocou a conferência de imprensa para voltar a acusar o primeiro-ministro, José Sócrates, de “sacudir a água do capote” ao imputar ao PSD a cobrança de portagens das SCUT do interior.
Recorde-se que está previsto estender a cobrança de portagens às autoestradas do interior centro e Algarve (A22) a partir do dia 15 de Abril. - Observatório do Algarve (06/03/2011)
Reflexão
Devemos estar conscientes do poder que nós (povo) temos para que não continuemos a ser uns meros fantoches de alguns políticos.
Isto talvez ajude.
"Foram mais as pessoas em protesto (no dia 12 de Março) em Lisboa e no Porto do que os votos obtidos pelos partidos nas legislativas de 2009 nos dois concelhos. Os votos em Costa e Rio também não superaram a quantidade de manifestantes. Afinal, para que servem 300 mil na rua?
Se a participação no protesto de sábado se traduzisse em votos, algo poderia mudar no panorama político. Estarão as várias gerações conscientes desse poder?
Se todas as pessoas que participaram nas manifestações de sábado em Lisboa e no Porto tivessem votado num só partido, essa força partidária conseguiria maioria absoluta nestes concelhos nas legislativas de 2009. E, apesar de os dados serem apenas relativos aos concelhos e não aos círculos eleitorais, a verdade é que é possível retirar algumas consequências. Num cenário em que uma das principais conclusões foi a união entre as gerações, torna-se necessário pensar sobre o que pode acontecer se esta acção de rua tiver frutos políticos.
Nas legislativas de 2009, na cidade de Lisboa, o PS conquistou 112.076 votos e o PSD 93.125, respectivamente, 35% e 29% dos 322.192 votantes. Os 200.000 manifestantes que marcharam na avenida da Liberdade representariam 62%. A perspectiva no Porto é semelhante. O PS conseguiu 53.813 e o PSD reuniu 46.012 dos votos numa eleição em que o concelho contou com 148.939 votantes. Os 36% e 31% dos votos que as forças partidárias alcançaram são inferiores aos 54% dos que teriam sido conseguidos pelos manifestantes.
Em relação às autárquicas, os resultados são semelhantes. Houve mais manifestantes na avenida do que aqueles que votaram em António Costa em 2009. 123.467 pessoas elegeram-no para presidente da Câmara de Lisboa, muito abaixo dos 200.000 que deverão ter desfilado no sábado. Já no Porto, Rui Rio conseguiu 62.183 votos, número inferior aos 80.000 manifestantes.
Nas legislativas de 2009, na cidade de Lisboa, o PS conquistou 112.076 votos e o PSD 93.125, respectivamente, 35% e 29% dos 322.192 votantes. Os 200.000 manifestantes que marcharam na avenida da Liberdade representariam 62%. A perspectiva no Porto é semelhante. O PS conseguiu 53.813 e o PSD reuniu 46.012 dos votos numa eleição em que o concelho contou com 148.939 votantes. Os 36% e 31% dos votos que as forças partidárias alcançaram são inferiores aos 54% dos que teriam sido conseguidos pelos manifestantes.
Em relação às autárquicas, os resultados são semelhantes. Houve mais manifestantes na avenida do que aqueles que votaram em António Costa em 2009. 123.467 pessoas elegeram-no para presidente da Câmara de Lisboa, muito abaixo dos 200.000 que deverão ter desfilado no sábado. Já no Porto, Rui Rio conseguiu 62.183 votos, número inferior aos 80.000 manifestantes.
O exercício é apenas demonstrativo (quanto mais não seja porque participaram crianças, e elas não votam) mas, ainda assim, sugere que o protesto pode ter força política. Mesmo com o facto de o movimento se ter assumido como independente de qualquer actividade "de cariz partidário, político ou ideológico"." - Jornal de Negócios (18/03/2011)
Portagens na A 22 assunto que diz respeito a todos nós Algarvios e a todos os outros que por lá vivem,a 125 não é alternativa para quem lá tem que fazer a sua vida diáriamento.
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