Os hotéis estiveram lotados no Algarve durante este mês de Agosto, sobretudo nas três primeiras semanas. Mas os mais de 800 mil turistas que rumaram ao sul do País gastaram menos dinheiro do que em outros anos. As receitas turísticas, face ao período homólogo do ano passado, registam uma quebra de quase cinco por cento.
"O mês de Agosto correu segundo as expectativas; tivemos uma ocupação hoteleira perto dos 100 por cento", disse ao CM o presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA). Elidérico Viegas referiu que as primeiras três semanas foram mesmo de lotação esgotada e que o mês poderá fechar com um aumento residual, inferior a um por cento, face à taxa de ocupação em Agosto de 2010.
O aumento residual de turistas no Algarve, sentido já em Junho (2%) e Julho (1,5%), deve-se ao factor conjuntural da instabilidade no Norte de África (ver caixa na página 9), que teve como efeito para o turismo algarvio uma recuperação na ordem dos 3,2 por cento desde Maio. Esta subida assentou, essencialmente, na maior procura por parte de mercados do Norte da Europa (Reino Unido, Holanda e Alemanha) e espanhol.
Ainda assim, os indicadores apontam para que a taxa de ocupação média anual vá continuar abaixo do valor de rentabilização, e este ano houve menos portugueses a fazer férias no Algarve. O turista português que, nos últimos cinco anos, impediu quebras maiores ao registar um aumento de 50 por cento na ocupação hoteleira algarvia, regista já este ano uma quebra acumulada de dez por cento.
Muitas famílias portuguesas, como o Correio da Manhã encontrou ontem nas praias, passam férias em casa de familiares ou amigos. E mesmo os hotéis estão com preços de promoção, para desafiar a procura. O resultado é um Algarve cheio, mas com turistas a controlar os gastos. "Esperemos que não se crie a ilusão de um crescimento", avisa Elidérico Viegas.
APROVEITAR A VIDA EM FAMÍLIA
Há um mês que a família Sampainho, de Alcanena, está de férias no Algarve. Está alojada em casa de familiares, e isso ajuda "a todos os níveis". "Fazemos uma vida normal e gastamos cerca de 800 euros. Hoje, fizemos uma extravagância: pagámos 20 € para andar de gaivota", refere o casal, que diz ter optado nas férias por "dar pequenos passeios na zona" e "aproveitar a vida em família".
FÉRIAS EM CASA DOS SOGROS
As férias "em casa dos sogros", em Lagos, começaram dia 10 de Agosto e acabam hoje. Isabel, de 37 anos, e Joaquim, de 42, regressam ao Alentejo com os filhos, Inês, de 11, Miguel, de 4, e Tiago, de 2 anos, que os obrigaram a "fazer quase todas as refeições em casa". Gastaram "cerca de mil euros" no Algarve, em passeios para "ver golfinhos, idas ao Zoo de Lagos e a Sagres, bem como a cinemas".
SEGUNDA RESIDÊNCIA LIDERA MERCADO
Existem no Algarve 100 mil camas turísticas classificadas e 145 mil segundas residências, que contribuem com mais 750 mil camas, à média de cinco por segunda habitação. Por isso se diz que, quando a lotação está esgotada, o Algarve tem 1,2 a 1,3 milhões de pessoas, incluindo os 450 a 500 mil residentes.
DISCURSO DIRECTO
"A SUBIDA NA OCUPAÇÃO É CONJUNTURAL", Elidérico Viegas, Presidente da AHETA
Correio da Manhã – O mês de Agosto foi bom para o Algarve?
Elidérico Viegas – Tivemos menos portugueses, mas mais britânicos, alemães, holandeses e espanhóis. O mês pode registar uma subida residual na ocupação hoteleira.
– É um bom resultado?
– Tivemos mais turistas, mas gastaram menos. As receitas foram mais baixas quase 5 por cento. Esperemos que não se crie a ilusão de crescimento sustentado.
– Porquê mais turistas?
– É uma subida conjuntural; tem que ver com a instabilidade no Norte de África.
INSTABILIDADE NO NORTE DE ÁFRICA DESVIA TURISMO
O Algarve perdeu 33 por cento do mercado britânico em dez anos. A ligeira recuperação registada este Verão, também de turistas holandeses e alemães, é uma subida conjuntural relacionada com a instabilidade no Norte de África. Os britânicos representam cerca de 30 por cento das dormidas turísticas, mas o Algarve é o destino de apenas dois por cento dos britânicos que fazem férias no estrangeiro. É um mercado onde ainda há muito para apostar, diz Elidérico Viegas.
OCUPAÇÃO LONGE DE RENTABILIZAR INVESTIMENTOS
O Algarve é um destino sazonal. Taxas de ocupação hoteleira a 100 por cento ocorrem apenas em períodos dos meses de Julho e Agosto. "A taxa de ocupação média anual em 2010 foi de 51 por cento, e este ano deverá ser semelhante", diz o presidente da AHETA. "A percentagem ideal para rentabilizar os investimentos efectuados é de 65 por cento. Abaixo disso, não controlamos os preços e temos um produto enfraquecido", acrescenta Elidérico Viegas.
ESPERADOS MAIS CARROS NA ESTRADA
Com o fim das férias para milhares de portugueses, espera se mais trânsito nas estradas principais. Nas saídas do Algarve, as opções são as habituais (A2 e IC1), mas quem ruma a norte também pode optar por viajar junto à costa (via Sines) ou junto à fronteira (via Alcoutim e Mértola). Para o final da tarde e início de noite são expectáveis filas de trânsito na chegada a Lisboa, pelas pontes 25 de Abril e Vasco da Gama. Para quem parte de norte para sul, a A1, A8, A17, A23, IP3 e IC2 (Estrada Nacional 1) são as vias que deverão ter mais fluxo de trânsito. No IP3, as obras na zona da Barragem da Aguieira poderão complicar ainda mais as viagens de quem deixa a Beira Alta rumo ao litoral.
Fonte: http://www.cmjornal.xl.pt/detalhe/noticias/nacional/actualidade/mais-turistas-gastam-menos
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