Páginas do Portimão Sempre

sábado, 7 de julho de 2012

Portimão: município agrícola? Por Virgílio Machado


Segundo estatísticas agrícolas concelhias, há 40 anos atrás, o município de Portimão era o 2º maior produtor do Algarve em arroz e o 3º em milho e vinho, com 958 toneladas e 3.515 hectolitros anuais de produção, respetivamente.

Será um sonho ou um lirismo? Um registo do passado? Um exercício inconsequente? Portimão é ou pode ser um município agrícola? Com estratégia, baseada na sua história económica e social, pode-se construir relançamento do seu desenvolvimento.

Segundo estatísticas agrícolas concelhias, há 40 anos atrás, o município de Portimão era o 2º maior produtor do Algarve em arroz e o 3º em milho e vinho, com 958 toneladas e 3.515 hectolitros anuais de produção, respectivamente. Condições naturais vantajosas, proximidade a circuitos de distribuição no comércio e indústria e acessibilidade a meios de transporte por estrada, linha de ferro e mar poderão ter constituído vantagens competitivas.

Não sou especialista em conhecimento agrário ou produtor. Sinto simpatia pela gente laboriosa e empreendedora da agricultura que se esforça por produzir e manter, com muito sacrifício diário, um conhecimento estratégico organizacional e fundamental para o nosso futuro: a sustentabilidade de uma produção baseada nas vantagens comparativas do nosso território, com consequências favoráveis na nossa soberania alimentar e auto- determinação.

A agricultura é, por isso, uma empresa política, com fortes impactos sociais, económicos e ambientais transversais. Apropriada pelo protecionismo da União Europeia, desempenha um jogo de poder favorável aos excedentes comerciais dos países mais fortes e instrumento das suas políticas.

Em Portugal, estimado sucessivamente como menor o número de agricultores (como eleitores e votantes), a mediocridade política tem-na condenado à irrelevância setorial, no quadro das políticas económicas e à sua insolvência económica.

Todos sentimos que o caminho do desenvolvimento se faz com produção. Porque o nosso futuro joga-se no território. Todo. Nos serviços, agricultura e pescas, indústria. E, de preferência, em complementaridade. Em sustentabilidade. Essa é a viagem que Portimão deverá seguir.

Porque a maior parte do seu território é periurbano ou perirural, ou seja, existe forte interação, pela curta distância entre zonas rurais e zonas urbanas, proporcionando um hibridismo rural-urbano. Porque tem uma zona de valor privilegiada na produção - o contacto direto com os turistas e residentes estrangeiros, todos enquanto representantes de vários países de origem.

Assim, para Portimão se tornar um município económico de excelência deverá planificar ambientalmente o seu urbanismo residencial, comercial e turístico para lhe dar qualidade.

Como? Com energias renováveis, hortas urbanas e espaços verdes com espécies autóctones. Incentivando a hospitalidade e a cultura do bem receber no alojamento turístico consumindo produtos tradicionais, como frutos secos, mel, vinho e laranja em denominações de origem municipais.

Promovendo estruturas organizadas como clubes de produtos agrícolas municipais que” leiloem” via internet e com apoio das Caixas Agrícolas, preços e condições de pagamento favoráveis nos vários circuitos de distribuição, incluindo grandes superfícies e cadeias hoteleiras internacionais e nacionais, com presença regular em eventos exportadores e turísticos.

A interação do mundo urbano para o rural também é necessária, transportando as vantagens daquele em tecnologias de informação e comunicação, assistência médica, formação e infraestruturas, equipamentos e conhecimentos para o turismo rural, de natureza, de saúde. Assim lhes proporcionando qualidade, modernidade e valor competitivo.

Deve-se estimular a criação de “quintas eletrónicas virtuais”, enquanto centros de conhecimento de preços, informações e mercados para que os produtores agrícolas possam decidir, de forma organizada e em tempo real pela internet, produções, vendas e promoções on-line, em desejável articulação com os agentes empresariais do mundo turístico. Estas conciliações existem no mundo. As quintas rurais informáticas na India (e-choupal) ou os kibutz israelitas estão aí para o demonstrar.

Uma iniciativa sobre municípios agrícolas teve lugar no passado dia 16 de junho na Mexilhoeira Grande, Portimão.

De um gabinete de estudos de um partido político. Num sábado soalheiro, a pedir praia, dezenas de pessoas compareceram e participaram. Ideias foram partilhadas.

A presença do Diretor Regional da Agricultura e de produtores enobreceram o encontro. Nenhuma cobertura houve da comunicação social. É normal. Os agricultores são poucos. E os municípios agrícolas não têm consagração legal.

Mas é preciso ver para além dos picos da montanha. Defender minorias discriminadas. Valorizar a dignidade da pessoa humana, enquanto Produtor e com Organização. Quem faz isto em Política e em Intervenção Cívica vai no bom caminho!

Fonte: Barlavento Online

3 comentários:

  1. Diz bem, amigo: há 40 anos atrás, ERA. Hortas urbanas!? Só se forem nos terraços dos prédios de 5 e 6 ou mais andares construidos onde eram as hortas que haviam em Portimão: Poço Seco, Boavista, do Craveiro, Qta da Malata, de S. Pedro, do Fojo, de S. Lourenço, do Morais, do Burro, do Rodrigo, em Vale França, etc. etc. Quer mais hortas? A bem dizer, Portimão ficava no centro das hortas todas que haviam. Porquê? porque a terra era FÉRTIL e era tratada com AMOR. Hortas urbanas! São urbanas porque lhes extrumaram com prédios em cima,os quais cresceram como cogumelos. AH! Os agricultores são poucos?! Ainda bem que o diretor regional da agricultura viu alguns (para poder contar à ministra):"Ainda não conseguimos exterminar os agricultores todos, na Mexilhoeira ainda os há e tão marafados para "agriculturar"(esta inventei agora)!" Hortas urbanas? É mais uma utopia, amigo: a ideia será boa, sim. E pergunto: se tantas hortas haviam em Portimão (enumerei apenas algumas) nenhum diretor regional se preocupou com isso; agora querem hortas "urbanas" outra vez? Não quero ser "Velho do Restelo" mas acho uma ironia. O tempo o dirá.

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  2. Tem razão de ser esse comentário. Concordo com esse ponto de vista e quero lembrar que não é à toa que hoje em dia ainda se diz "Urbanização Horta de...". E lá está: Urbanização Horta da Raminha. É preciso ver para além dos picos da montanha? Pois, mais difícil será ver para além dos tais prédios construídos onde eram as Hortas de Portimão. Se alguma coisa há a fazer pela agricultura, façam. A ministra disse em Vila Franca de Xira (creio) que "entram 200 candidaturas (por mês) de jovens a querer instalar-se na agricultura"... D. Dinis é que teve "olho" para isto!

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  3. É bom não esquecer a Quinta do Bispo e a Horta do Palácio. Onde é a Horta do Palácio, onde é que é? Mesmo atrás da Câmara! O que é está previsto construir lá? Uma Horta? Uma ova! Um paláciozeco sem importância, etc. custa uma ninharia... Quer dizer: um agricultor que necessite construir uma habitação no seu terreno... A Direção da Agricultura não autoriza construir porque é reserva agrícola (as batatas ou abóboras assustam-se de ver uma casa na paisagem); aqui em Portimão, tudo quanto eram Hortas de valor, foram construídos prédios e prédios... e não teve importância nenhuma!? É o progresso? ou será o retrocesso

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