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terça-feira, 8 de novembro de 2011

Novas comunidades de trabalho. Por Antonieta Guerreiro.




O mundo está a mudar de dia para dia. Os mais resistentes poderão não querer ver, mas os processos estão em marcha e são inevitáveis. Nada será como antes pois os valores subjacentes aos mercados, incluindo o mercado de trabalho, já são diferentes.

As hortas comunitárias estão em ascensão. Já há pequenos produtores agrícolas que voltaram ao antigo esquema das “ajudas” onde a jorna é paga em produtos acabados de colher. O(a) leitor(a) não sente que se está a germinar um sentimento colectivo de querer viver em comunidade? - Não o sente nas suas células? – Os tempos difíceis bateram a todas as portas e todos procuram um pouco de solidariedade e é nesse terreno fértil que surgem as empatias, mesmo entre pessoas que se calhar nunca foram propriamente amigas ou quiçá nunca se conheceram. Não sente que se o mundo fosse mais solidários e humano esta crise seria de todo diferente?

O mercado de trabalho terá se de organizar de outra forma. As pessoas terão de aprender a trabalhar em rede e terão de olhar para o vizinho do lado não como um concorrente mas como um parceiro. Há quem lhes chame “Arranjos Produtivos”; “Clusters” ou “Égregoras” – é tudo o mesmo.

Um “Arranjo Produtivo” ou "Cluster" é um grupo de actividades semelhantes que se desenvolvem conjuntamente. O conceito sugere a ideia de junção, união, agregação, integração. Égregora vem do grego egrêgorein, Velar ou Vigiar. Repare o(a) leitor(a) todos os agrupamentos humanos possuem seus egrégoros: as empresas, clubes, igrejas, famílias, partidos, todas as células que compõem o nosso organicismo etc., onde as energias dos indivíduos ou das empresas se unem para formar uma entidade autónoma capaz de realizar as aspirações da colectividade. Um egrégoro participa activamente de qualquer meio. Assim também é o Cluster de Mercado de Trabalho que funciona como um Arranjo Produtivo. Isto não é novidade. Michel Porter já o disse há décadas!

A Itália tornou-se no maior exportador de calçado de qualidade a partir da solidariedade, busca da criatividade, do bom gosto e do dinamismo da acção empreendedora colectiva. Estas indústrias consolidaram-se mutuamente, dialogam entre si, conhecem-se umas às outras e pressionam-se mutuamente e assim fixam as tendências mundiais. Ou seja, a vantagem competitiva não é gerada por uma “empresa solitária” mas por todas as empresas unidas no mesmo propósito. O Projecto “Chihuahua Século XXI”, no México, desenvolve “Arranjos Produtivos” para fortalecer áreas-chave e atrair à região pessoas cada vez melhor remuneradas.


No Brasil, em 1997 os Estados do Ceará, Pernambuco e Bahia, desenvolveram com o apoio do Banco Mundial, do IPEA (Instituto de Pesquisa Económica Aplicada) e do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento) uma experiência para promoção de quatro “Arranjos Produtivos”: Fruticultura Irrigada; Turismo; Grãos e Informática. O projecto “Iniciativa pelo Nordeste - uma estratégia de desenvolvimento competitivo” contou com o concurso para consultadoria especializada em estratégia de clustering. Nós por cá ainda temos de aprender a deixar de ser concorrentes para nos tornarmos parceiros do processo produtivo e do mercado de trabalho.


Antonieta Guerreiro

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