Páginas do Portimão Sempre

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Isto, também é Portimão. Por Nuno Campos Inácio.


Com ocupação humana desde a pré-história, o território portimonense sempre soube fazer face às dificuldades que, ao longo dos séculos, assolaram o seu povo.

Na pré-história, quando pouco mais havia a fazer do que correr pelo mundo, recolhendo o que a natureza oferecia, os primeiros homens, reconhecendo as potencialidades desta terra, aqui se fixaram, sedentarizando, dedicando-se à agricultura, à pastorícia, à pesca e à apanha de bivalves.

Construíram necrópoles e monumentos funerários, ergueram menires e realizaram manufaturas, cujo testemunho chegou à atualidade.

Com o desenvolvimento humano, que possibilitou a partilha de conhecimentos entre diferentes povos, o território de Portimão foi visitado e ocupado por Fenícios, Gregos, Cartagineses e, muito provavelmente, Egípcios.

Contra todas as espetativas históricas, as lápides fúnebres que foram sendo encontradas ao longo dos últimos anos, parecem confirmar que, afinal, aqui teve origem o primeiro alfabeto, uma vez que os escritos Cunii são mais antigos do que a chegada dos Fenícios e, até, do que os mais antigos documentos ondem surge o alfabeto fenício.

Apesar desta abertura de Portimão ao mundo, conseguiu-se manter a individualidade local, presente em Alcalar, mas também em Ipses, a antiga povoação de Alvor.

Antes dos Romanos, aqui chegou Aníbal Barca, fundador de Portus Hannibalis, a cidade sepultada na zona da Mata da Rocha, que ficou a descoberto com o terramoto de 1755, mas foi rapidamente coberta com o regresso da areia, trazida pelo maremoto.

Os Romanos, se tomaram Ipses e Portus Hannibalis, não deixaram de tirar proveito desta terra, que elegeram como sua. Na Quinta do Amparo, na Coca Maravilhas, em Vale França, na Abicada, no Sítio da Baralha, no Sítio de São Francisco, no Vau, em Alvor e no centro da actual cidade, foram construídas “villas”, casas mais simples, fortificações e túneis.

Nos seus portos encostavam as grandes embarcações, que daqui levavam o garum, o murex, o azeite, o peixe em salga e os produtos agrícolas.

Como em qualquer outra cidade portuária, aqui teriam estaleiros navais, olarias, lagares de vinho e de azeite, tanques de salga e salinas.

Com o fim do Império Romano, conheceu-se nova crise. O Algarve e, com ele, o território portimonense, ficou entregue ao Império Bizantino, que não tinha condições para realizar uma administração eficaz. Assolado por ataques Vândalos, Suevos e Visigodos, terá visto os campos abandonados e o seu porto a entrar em declínio, até à chegada do próximo povo dominante.

Em 711, os Árabes chegam à região, dominando-a e administrando-a. O contacto permanente entre o Algarve e o resto do império islâmico, trouxe novo desenvolvimento. Origina-se a cultura dos citrinos, das amêndoas e do figo; estabelecem-se novas formas de produção e de recolha de água, surgem novas artes, intensifica-se a pesca e o comércio mercador.

Neste período, no exacto local onde se encontra o centro de Portimão (então com uma elevação muito mais suave do que actualmente), foi construída a localidade de al-Burtimûn, enquanto junto à ria se desenvolvia al-Bûr.
Al-Burtimûn, (ou Purtimunt, como escreviam os latinos) será a origem de Portimão, como o comprovam os achados e edificações desse período, ainda intactos e à espera da luz do dia, que se encontram mesmo por baixo dos nossos pés.

Em 1189, o território sofreu um novo golpe profundo. Uma força naval Cruzada destruiu completamente Alvor, matando mais de 5000 pessoas, fazendo algo de muito semelhante a Portimão. Privado de gente, barbaramente assassinada; com as edificações gravemente destruídas, essas localidades deixaram de ser atractivas, quase caindo no esquecimento. Apesar disso, D. Afonso III concedeu Foral a Portimão, ainda no Século XIII.

O grande sismo de 24 de Agosto de 1356, seguido de maremoto, sepultou a cidade, como antes já tinha acontecido a Portus Hannibalis. No entanto, terá sido uma sepultura “suave”, uma vez que permitiu que a cidade se mantivesse quase intacta até aos nossos dias, criando uma elevação artificial, sobre a qual foram construídos os actuais edifícios da parte antiga da cidade.

Só no Século XV se volta a falar em Portimão. Era, de certeza, a Aldeia Nova que surge no livro do Almoxarifado de Silves e a Vila Nova de Portimão a partir da elevação das muralhas, quase certamente edificadas sobre os antigos panos islâmicos. Era Vila Nova, porque estava edificada sobre a velha Portimunt.

No Século XV, aproveitando o seu potencial portuário e o desenvolvimento da actividade mercantil, nascida com o advento dos descobrimentos marítimos, Portimão desenvolveu-se rapidamente. Terra de chegada e de partida de viajantes e mercadores, abriu-se ao mundo, dele recebendo o que de melhor havia além-fronteiras e para todos os recantos mandando muitos dos seus filhos. Foi dessa diáspora portimonense que nasceram grandes vultos da humanidade, como Fernando Pessoa, Eça de Queiróz, Carlos Drummond de Andrade ou Simão Bolivar.

Com a inquisição, Portimão, terra de eleição de mercadores judeus, voltou a sofrer um duro golpe, com a partida para Amesterdão de muitas famílias poderosas e cultas. Daqui saíram homens de letras e ricos mercadores, que contribuíram para a projeção de Amesterdão e dos Países Baixos nos Séculos seguintes.

Em 1755, nova tragédia e novo rol de dificuldades afetam Portimão. A cidade é gravemente afetada pelo terramoto, caindo várias casas e edifícios senhoriais e morrendo muita gente. O terramoto terá destruído muito do património histórico e arquitetónico, mas a cidade, mais uma vez, esteve à altura dos desafios que nascem das contrariedades.

Das suas muralhas centenárias foram retiradas as pedras para as novas edificações, dos cemitérios saíram as pedras tumulares que serviram de suporte à Igreja Matriz.

No Século XIX, começa a industrialização, com os fumeiros, a cortiça e, mais tarde, com as indústrias conserveiras. O porto cresce em importância, com a exportação de vinho, frutos secos, madeira, cortiça e conserva.

A cidade conhece novo crescimento vertiginoso, recebendo gente de todo o Algarve, mas principalmente do interior, que desce a serra, em busca de novas oportunidades. Esse crescimento abrupto fez desenvolver o comércio, tornando-se Portimão uma das localidades mais importantes do Algarve.

Em 11 de dezembro de 1924, é elevada a cidade. A indústria conserveira é a principal actividade económica na primeira metade do século, mas entra em declínio posteriormente. Nasce uma nova crise, que abre uma nova oportunidade de desenvolvimento. O turismo, então em embrião, começa a ganhar força e a cidade não chega a cair na penúria.

O Sol e o Mar, associados a um bairrismo cativante, trazem turistas de todo o país, e, a partir dos anos 1950, de toda a Europa.

Com o 25 de Abril, Portimão torna-se destino de “retornados”. Recebe centenas de pessoas vindas de África, possibilitando-lhe novas condições de vida. Foi uma época difícil, de crise, que durou até aos anos 1980, mas que não abalou os alicerces firmes da cidade.

Com a adesão à União Europeia e a abertura de fronteiras, a cidade cresce no número de turistas e na oferta turística. Cresce em dimensão e em altura, muitas vezes com recurso a projetos de urbanização muito pouco recomendáveis urbanisticamente, que descaraterizaram a cidade turística dos anos 1960/1970, mas abriram novas potencialidades económicas locais.

Os primeiros anos do Século XXI projetam Portimão a nível nacional e internacional. Cidade de diferenciação à custa de eventos de grande projeção e mediatismo, sofreu obras de requalificação urbana, viu nascer uma marina e um autódromo, criou um centro de exposições condigno, um museu de nível europeu e um teatro digno de referência.

Ainda assim, essa aposta, viável em épocas de projeção económica, mostra-se fatal em épocas recessivas e a cidade, atualmente, vive mergulhada numa crise profunda.

O comércio tradicional está estagnado, a construção civil completamente paralisada, os serviços à beira da rutura, a hotelaria conhece baixas de ocupação nunca vistas e não há alternativas noutros setores económicos, o que leva ao crescimento do desemprego e ao nascimento de uma nova “diáspora” portimonense.

Dezenas de pessoas partem de Portimão diariamente, procurando melhores condições de vida e de trabalho noutras partes do mundo.

Apesar do quadro negro da atualidade, Portimão, como no passado, saberá dar a volta à crise que atravessa e encontrará novas formas de projeção económica e social.

Um dos caminhos, poderá ser a valorização do seu património natural e arquitetónico, associado a uma divulgação de que tem mais para oferecer do que apenas Sol e Mar.

Talvez ainda seja cedo, mas, no futuro, serão criadas condições para uma eficaz requalificação urbana, que leva à dinamização do comércio local; será diversificada a oferta turística, recuperando muitas das tradições portimonenses e divulgando-as; hotéis temáticos e espaços de diversão temáticos são dois caminhos a seguir, o arranjo de edifícios emblemáticos e o arranjo urbanístico das principais “portas de entrada” da cidade são outros; a melhoria dos acessos, da circulação de trânsito e do estacionamento é fundamental, tal como a criação de uma rede de transportes eficaz, acompanhada por um terminal rodoviário.

Espaços verdes, formação de guias turísticos locais, divulgação da história e do património local e um eficaz aproveitamento arqueológico poderá fazer a diferenciação entre a estagnação e o desenvolvimento.

Muitos erros foram cometidos no passado e, até, num passado bastante recente. No entanto, nem tudo está perdido e Portimão ainda tem muito para dar.

Seguem algumas das imagens do muito que existe em Portimão para oferecer, mas que, infelizmente, não tem sido condignamente divulgado. Não percebo porquê pois, afinal, Isto também é Portimão…

Nuno Inácio











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