Finalmente parece que vamos ter um olhar com relevância política sobre agricultura. Sector que ocupa 80% do território Português. É esta a esperança que tenho na nova ministra e nas suas novas políticas.
Dar valor ao produto e serviço agrícola, urge.
É essencial, salvaguardando os interesses Portugueses na futura PAC 2014-2020 renegociar com ganhos. A nossa especificidade, caso único de produtividade agrícola, terrenos e clima excepcionais aleado ao facto de termos o território agrícola muito espartilhado e em áreas pequenas, tornam-nos produtores de exclusividades e não concorrenciais à produção em massa. As quotas de produção não podem ser aplicadas a Portugal, somos um nicho, vendemos para nichos de mercado, não concorremos com os grandes produtores espanhóis, franceses, alemães ou ingleses. Não é essa a nossa missão, produzimos pouco, de excelente qualidade e vendemos caro.
Alterar o paradigma de consumo é uma automática consequência face à nossa incapacidade que vamos ter para importar, quer bens alimentares quer outros bens de consumo.
Como já referi o sector agrícola ocupa 80% do território Português, e este território está em grande parte ao abandono. Território de elevada capacidade agrícola e um clima que é uma bênção.
Os produtos produzidos em Portugal são de elevado valor, fruto da qualidade da terra e do clima. Se a este dado for induzido mais valor, com técnicas de transformação e embalagem, conceito e marketing, conseguimos exclusividade e atingir mercados com padrões de exigência de excelência que pagam o seu preço.
Não é competindo com as produções de massas que lá chegamos. Os nossos custos de produção são mais elevados que os nossos vizinhos espanhóis, do norte de áfrica e da América latina. Temos sim que traduzir os custos em valor acrescentado e vender para nichos exclusivos.
É pelo aumento das receitas, pelo aumento do preço que ganharemos uma posição no mercado de elite, não é como se tem feito até aqui, com a contínua redução de custos, tornando cada vez menor o rendimento agrícola e o correspondente abandono das terras.
Como se consegue atrair um jovem a voltar à terra, quando esta lhe dá um rendimento inferior a qualquer trabalho não especializado na cidade? Só vejo uma saída, aumentar o rendimento da terra.
Ganhar dimensão através do associativismo, para partilha de tecnologias, maquinas, marketing e distribuição é um dos meios.
Ganhar valor através da criação de marcas de prestígio, outro dos meios.
Perceber que os nossos produtos não servem só para matar a fome e que são em si um conceito, uma exclusividade de acesso apenas a quem degusta e valoriza a experiencia.
A restauração de topo mundial, os hotéis de elite mundiais. São estes os clientes que nos dão valor.
Quanto pagará um Japonês pela experiencia de comer uma pera rocha, devidamente descascada, servida em prato largo, em talheres especiais, acompanhada de um vinho do porto ou de um moscatel no restaurante “tai tai” de três estrelas Michelin?
Quanto pagará um chinês, empresário de sucesso que apresenta no lançamento do seu novo produto, num cocktail no hotel “imperium” por gomos ou pedaços de laranja algarvia, devidamente apresentadas, sem grainhas, caroços ou peles e retiradas manualmente por pinças de prata e engolidos de uma só vez?
É esta a nossa clientela. São estes os mercados que nos podem valorizar.
É o privilégio, que nós, os indígenas cá do burgo temos, em poder ter todas estas experiencia pagando um valor bem mais baixo. Ir directamente ao produtor, ou este trazer-nos a casa.
Quando o Mundo paga, altos preços pela exclusividade dos nossos produtos e nós próprios não os valorizamos, algo está errado. É este o paradigma que vamos alterar. Comer Português e vender caro os produtos Portugueses no estrangeiro, devidamente embelezados, com roupagem nova, moderna e atractiva. Esta alteração não é um sacrifício, é um privilégio que muito poucos têm acesso.
A terra valoriza, os rendimentos agrícolas aumentam, a dependência do exterior em produtos alimentares diminui, o défice com o exterior diminui, a riqueza fica parqueada em território nacional.
Custódio Coelho
Sem comentários:
Enviar um comentário