Apesar da garantia da empresa Estradas de Portugal de que as sabotagens nos pórticos de cobrança de portagens na Via do Infante não teriam consequências para os utentes, a verdade é que os sistemas automáticos – pelo menos a Via Verde – registaram viagens a dobrar até que o funcionamento dos pórticos foi reposto.
O Sul Informação descobriu que esta falha afeta as viaturas de residentes ou empresas que têm a isenção de pagamento de portagens em 10 viagens e que, devido à falta de funcionamento de um ou mais pórticos, chegaram a gastar três das suas viagens de graça quando na realidade só fizeram uma deslocação.
É que, por exemplo numa viagem entre Lagoa e Faro, no dia 13 de dezembro, após o ataque no dia anterior ao pórtico situado perto do nó de Boliqueime, em vez de o sistema contabilizar apenas uma só viagem, devido à falha de funcionamento do pórtico sabotado, registou duas viagens: uma com entrada em Lagoa e saída na Guia, outra imediatamente a seguir, com entrada em Loulé e saída em Faro.
Ou seja, estando o pórtico de Boliqueime avariado, o sistema não contabilizou a passagem das viaturas por esse local, pelo que é como se o carro tivesse saído antes e entrado depois, o que significaria duas viagens e não apenas uma só.
Num dia, com viagem de ida e volta Lagoa-Faro e Faro-Loulé, em vez de gastar duas viagens com isenção, cada viatura gastou, efetivamente, quatro.
E o problema agudizou-se no dia 14, quando, além do pórtico do Nó de Boliqueime, também o da Guia foi vandalizado e esteve muito tempo sem funcionar. Numa só viagem, era como se o mesmo carro fizesse três trajetos diferentes…
Até agora, ainda pouca gente reparou nesta dupla (ou mesmo tripla) faturação de uma mesma viagem, até porque a maioria das pessoas optou, por ser mais barato, por não receber fatura por correio em casa e apenas consultar os seus dados no portal da Via Verde.
Mas o Sul Informação teve acesso aos dados de diversas pessoas que constataram o duplo registo das viagens na Via do Infante. E sabe também que as reclamações já começaram a chegar à Via Verde e à Via Livre.
Um dos casos deu-se no dia 13 de dezembro, quando a viatura entrou em Lagoa, às 10h47:53 e só saiu da A22 no nó de Faro, às 11h21:38, demorando pouco mais de 35 minutos no trajeto. Mas a Via Verde regista esta única viagem como sendo duas – uma com entrada em Lagoa e saída na Guia, às 10h54:59, outra com entrada em Loulé, às 11h10:50 e saída em Faro, à hora indicada atrás. Pelo meio, está o pórtico de Boliqueime, que às 2h40 do dia 12 tinha sido atingido a tiro e por isso tinha ficado inutilizado por longo tempo.
Um dos casos de cobranças a mais
As Estradas de Portugal disseram na altura, que essa sabotagem não afetava os utentes da Via do Infante, porque os dados dos carros que iam passando ficavam armazenados e depois, quando fossem repostas as ligações ao sistema central, esses dados seriam transmitidos. Mas afinal, pelos documentos a que o Sul Informação teve acesso, não foi nada disso que aconteceu.
Outro caso é o de um grupo de quatro colegas de um organismo do Estado, que moram em Portimão e trabalham em Faro, e que todas as semanas partilham o carro de uma delas para aproveitar as 10 viagens grátis na Via do Infante (cinco dias úteis com duas viagens por dia).
Qual não foi o espanto da proprietária da viatura na semana entre 12 e 16 de dezembro quando foi consultar o seu saldo no portal da Via Verde na internet e verificou que, em vez de lhe serem contabilizadas, em cada dia, duas viagens (uma de ida Portimão-Faro e outra de volta), estavam a ser contabilizadas duas ou mesmo três, como se tivesse andado a entrar e a sair na Via do Infante. O resultado é que, só nessa semana, gastou em portagens 11.05 euros, que lhe foram indevidamente cobrados devido à avaria dos pórticos.
«Nós combinámos este sistema de, em cada semana, usarmos o carro de uma de nós, para aproveitarmos as 10 viagens de isenção e assim nunca pagarmos portagens. Mas agora qual não foi o nosso espanto quando verificámos que nos estavam a cobrar a mais», disse uma das afetadas ao Sul Informação.
Verificando a cobrança indevida, os utentes têm estado a telefonar para a Via Verde, a explicar a situação e a tentar saber como será resolvido o problema. Num dos casos, a resposta que foi dada é que a Via Verde não tinha conhecimento do problema e que nada tinha a ver com esta questão, uma vez que não gere as portagens mas apenas vende o dispositivo automático. Por isso, informou a funcionária da Via Verde, o problema terá que ser resolvido pela Via Livre, a verdadeira gestora do sistema de portagens automáticas na A22. Mas, perante a insistência do utente, uma vez que o sistema foi contratado com a Via Verde, foi fornecido um email (gestao.clientes@viaverde.pt) para o qual deverá ser enviar a reclamação, tendo sido dada a garantia de que seria «a Via Verde a tratar da reclamação junto da Via Livre».
No entanto, noutros casos reportados ao Sul Informação, o funcionário de serviço no atendimento ao cliente da Via Verde não foi tão solícito e limitou-se a aconselhar os clientes a reclamar diretamente junto da Via Livre.
Ao que foi possível apurar, ambas as entidades já receberam nos últimos dias dezenas e dezenas de telefonemas e de reclamações e mais se seguirão quando os utentes começarem a aperceber-se das viagens a mais que lhes foram contabilizadas e cobradas.
Entretanto, o Sul Informação também apurou que nem todos ficaram prejudicados com as falhas de registo dos pórticos. Quem não tem dispositivos eletrónicos e circulou na Via do Infante nesses dias pagou menos portagens, porque menos troços ficaram registados…
O que fazer?
Se tem um dispositivo Via Verde, comece por ir ao site http://www.viaverde.pt/Website/, registe-se para ter acesso à sua conta, e verifique se tem faturações a mais.
Para controlar melhor os seus gastos com portagens, recorde que as sabotagens tiveram lugar no dia 12 (pórtico junto ao nó de Boliqueime), no dia 13 à noite (pórtico junto ao nó da Guia), no dia 17 (de novo afetando o pórtico de Boliqueime, embora a sabotagem tenha sido feita fora da A22) e no dia 27 (fora da A22, provavelmente afetando o pórtico entre Olhão e Tavira).
Se verificar alguma anomalia no que lhe foi cobrado/faturado, pode telefonar para a Linha de Apoio ao Cliente 707 500 900 da Via Verde (mas atenção: só funciona nos dias úteis, das 8h30 às 20h30).
Ou pode optar por enviar logo um email para gestao.clientes@viaverde.pt, expondo a sua reclamação, que, segundo foi garantido pela operadora que atendeu a Linha de Apoio ao Cliente, será depois encaminhada para a Via Livre.
Ou pode ainda contactar diretamente a Via Livre, através do telefone 707 201 292 ou do email info@vialivre.pt, a expor o caso e a pedir a devolução do que lhe foi cobrado a mais.
Quando e como isso será feito é que ninguém conseguiu ainda explicar ao Sul Informação. Mas, com a previsível subida das reclamações, agora que toda a gente começa a ficar alertada para o problema, alguma medida terá que ser tomada e rapidamente.
Se quiser partilhar o seu caso, envie-nos a sua experiência para o email sulinformacao@gmail.com e conte-nos o que se passou consigo!
Fonte: Sulinformação
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